A Matryoshka

Ter um filho surge como um grande passo em frente - senão como o grande passo em frente.
E será certamente...
Supreendem-me, no entanto, os inúmeros passos atrás que o acompanham.

Porque é um passo em frente que damos lembrando de como éramos e como temos sido desde que fomos como um filho será.
É um passo feito de recordações de quem vai ser pai ou mãe, de recomendações dos avós e bisavós, de repetições e eventuais correcções.
Feito de berços que saem da arrecadação e do José Barata Moura em vinil e em CD.
Feito de um vestido que temos desde a adolescência e que nos lembra como então não queríamos que a barriga crescesse quando agora o voltamos a vestir, porque a barriga até cabe lá dentro.
Feito de um colete que eu dizia ter vindo de "Antenas", a propósito do qual aprendi com o meu pai onde ficava a Grécia, e que agora já não me fica grande (na foto).
Feito do que nos lembramos de nós e do que ficamos a conhecer do outro.
Um passo em frente feito de como éramos, como fomos, como temos sido desde que fomos como um filho será. Os dois.

E só podia ser assim - não sei porque me surpreende.
Afinal, um filho não é agora mas sempre.



(...ou uma grande conversa para deixar para a posteridade - e para quem não pode ver ao vivo - uma fotografia da Matryoshka com a sua barriga na 31ª semana de gravidez, aprox. 7 meses.)