Quando a minha vizinha - consciente, certamente, das minha origens entre o agnóstico e o ateu, quiçá com tendencias hereges - me contou a história de N. Sra. de Fátima a minha idade não estava longe da dos pastorinhos.
"Óptima desculpa para chegar tarde a casa!", foi o meu primeiro pensamento, "...Duvido é que com a minha mãe funcione...", continuei o raciocínio apesar de, na altura, ainda não saber o que era ser agnóstico, ateu ou quiçá herege.
Claro que a minha vizinha também me explicou que nos pastorinhos também ninguém acreditou, que os pais lhes bateram muito, que foram presos e que está tudo no museu de cera.
Eu também não acreditei.
Depois de um ano de catequese converti-me e a minha avó ofereceu-me uma imagem de N. Sra. de Fátima com pastorinhos e tudo, daquelas que brilham à noite e tocam a música do 13 de Maio.
Rezei bastante até me reconverter e entre agnóstica e ateia, quiçá herege, arrumei a Senhora num armário e nunca a pude devolver à minha avó porque entretanto perdi uma pastorinha (não sei bem qual).
Quando era um pouco mais crescida, os meus pais - certamente ateus - explicaram-me que não foi só a N. Sra. de Fátima que apareceu aos pastorinhos, que já em Lourdes a Senhora tinha aparecido imensas vezes uns anos antes e também com a exigência de se construir uma capela. "Este país é que está sempre atrasado" pensei eu.
E daí talvez não se devesse ao atraso, explicaram-me os meus pais - certamente hereges - talvez tivesse alguma coisa a ver com o que se estava a passar na Rússia nesse ano de 1917.
Entre tanta Senhora a aparecer e a desaparecer, capelas exigidas e segredos revelados, mantive-me agnóstica.
Também me custava a acreditar que os pastorinhos soubessem o que se estava a passar na Rússia...
Ultimamente porém tenho andado bastante interessada na fé cristã, investigando seus rituais e iconografias, conhecendo seus simbolismos e bastidores.
Daí a Fátima foi um saltinho e de Fátima aos milagres outro.
Como se passa de uma capelinha a um santuário? Milagre!
Como uma parte do Muro de Berlim passa a monumento em Fátima? Milagre!
Como se arranja dinheiro para uma igreja cujo valor de obra duplica entre o projecto e a inauguração? Milagre!
Como se pára um país em torno de uma igreja? Milagre!
Como se tem um dos melhores arquitectos a nível mundial a fazer um painel numa obra de outro? Milagre!
Como se gosta de semelhante edifício?
Pela parte que me toca devo revelar o milagre de não me doer quando lá vou à dentista!
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sexta-feira, outubro 12, 2007
À espera de um milagre
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3 comentários:
Ah, mas isso é porque a dentista tem mãos de fada!!
:)
Lembro-me do medo que passei a primeira vez (e para mim, pelo menos, a única) que a tua vizinha nos levou a uma procissão das velas.
Deve ser por isso que nunca senti necessidade de pôr os pés em Fátima
Ladybug: Evidentemente!!! A minha dentista nem tem manto na cabeça nem voa por cima de nenhuma azinheira!...
Mafaldinha: Já nem me lembrava desse momento! Mas agora lembro bem da conversa sobre as raparigas a qum ardia o cabelo...
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