Qualquer cidadão deste país que desconte para a Segurança Social já se habituou a dar-lhe o desconto.
Dá o desconto quando passa horas para ser atendido para poder passar horas a tentar perceber alguma coisa. Dá o desconto quando pede para pagar um ano de atraso e lhe apresentam a conta 3 anos depois (triplicada) com os juros respectivos. Dá o desconto quando pede alteração de morada e as cartas continuam a ir para a morada anterior anos depois (e se a morada anterior for na província nem volta a falar no assunto já que se perde menos tempo a fazer 200km do que à espera de senha na mão).
Vai-se dando o desconto porque sim, porque tem de ser, porque contribuir para a Segurança Social é uma questão de princípio, porque se tem esperança em dias melhores.
Até que um dia chega o momento de usufruir qualquer coisa dos descontos que fez e, com o entusiasmo, uma pessoa ainda é capaz de acreditar que sim, que agora é possível ter licenças parentais de 1 ano e é só mais um mandato e até ficamos como a Suécia, pois...
Depois percebe-se que não é bem assim e voltamos a olhar para o abono pré-natal, que cada um sonha com o que pode, e a criança está quase a nascer pelo que a poupança está feita - que recebendo tudo junto até parece mais dinheiro.
E como a esperança é a última a morrer - e desde que inventaram as declarações electrónicas para o IRS até consigo entregar as coisas no prazo (nem que seja no último dia às 23h59) - fico toda contente por o choque tecnológico ter chegado à Segurança Social quando leio no site "Segurança Social Directa" e corro a pedir a senha.
Senha em casa - que na província consegui manter o meu registo lá mas com a correspondência a vir para cá (ora digam lá mal dos serviços!) - corro ao computador...tarde de mais:
"dísponível de 2ª a 6ª Feira das 8h às 22h"
Leio e releio, às 21h55, imaginado o que pode levar um serviço on-line a ter horário de expediente. Mas não é que às 22h aquela coisa se começa a baralhar toda e a pedir-me o NISS e a senha por tudo e por nada?!
"mais informações aqui", encontro. Clico no link, sai-me um mail para eu escrever a pedir as informações, suponho. Desisto.
Volto no dia seguinte, mais cedo. Já consigo abrir uma e outra página mas logo "Lamentamos, o serviço encontra-se temporariamente indisponível" (ou qualquer coisa parecida).
Estar à espera fora do sofá é pior, pelo que continuo a tentar. De tentativa em tentativa quase conseguia chegar ao fim...se não fossem já 22h.
Volto no dia seguinte, mais cedo. Consigo fazer o pedido. Estou mesmo contente à beira de verificar que "todas as afirmações são verdadeiras" quando reparo que neste formulário - ao contrário do que se imprime em papel para entregar em mão - não pedem o Agregado Familiar.
Vou ao "Agregado Familiar NOVO!". Ao contrário do formulário que se preenche em papel para entregar em mão este só funciona com o NISS, e o NISS do cônjuge ainda não chegou...
Parece que este Sábado me poderão encontrar na Loja do Cidadão praguejando sobre o choque tecnológico e aproveitando para esclarecer as inúmeras dúvidas que a nova legislação me suscita.
Ao menos sou "prioritária" (se não talvez preferisse fazer 200km)...
terça-feira, fevereiro 17, 2009
Descontos e outros contos
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1 comentário:
Seria de chorar a rir se não fosse para chorar a sério...
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