quinta-feira, outubro 23, 2008

"...e volto a ter 14 anos"


1992
(as legendas não eram necessárias, mas não encontrei outra versão do clip original)


Os anos vão-nos empurrando para frente como se nos quisessem esconder alguma coisa.
Por mais que se escreva há sempre muito que se vai arrumando no armário que fica mais longe. E há sempre o que não cabe no caderno por mais que se escreva. O que não se esquece mesmo que não esteja escrito.

Os anos vão-nos enchendo de páginas mais em branco (ou preto, conforme os casos). Amontoam-se nas secretárias em que não se escreve que substituem as camas onde se chorava com gosto. Enchem vazios com nadas quando comparados com aqueles tudos.
Escondem as páginas do tempo em tudo merecia ser escrito, em que tudo era para sempre. Talvez para nos esconder que o tempo nos ensina que o sempre é mais curto do que pensávamos. Talvez para nos escondermos do que pensávamos. Talvez para nos escondermos dos anos que nos enchem de páginas em branco.


Até que, de repente, soprando para a frente 16 anos de folhas acumuladas, alguém nos lembra.
Uma vez. E outra. E outra.
Obriga-nos a lembrar os sítios, as pessoas, os cheiros.

De repente, lembro-me de tudo. Tantas vezes. Para sempre.


(Obrigada.)

2 comentários:

Alexa disse...

Lindíssimo texto, Mir!...
Faz-nos ter vontade de voltar atrás... Não fora termos que passar por tudo aquilo que já vivemos outra vez.
Por vezes, a incerteza do futuro também pode ser reconfortante ;)

Catarina disse...

amo-te igual. sem os olhos pintados de preto. sem selos. sem lágrimas adolescentes. com filhos. com vidas cheias de tudo e de nada. amo-te igual.