A cenoura

Com a chegada de Julho o desânimo instala-se.
É assim todos os anos.

Na verdade toda a gente queria já estar de férias, mas como toda a gente quer ir de férias com os assuntos resolvidos toda a gente quer tudo feito antes das férias, quando toda a gente queria já estar de férias.

É então que uma pessoa se tenta convencer que já falta pouco, que está quase a ir de férias, para tentar deixar tudo pronto antes das férias.
É então que os outros pensam o mesmo e alguns começam a entrar de férias mesmo que continuem a picar o ponto e a atender telefonemas.
É então que uma pessoa fica mesmo com vontade de ir de férias.


Com a chegada de Julho o síndrome do ano lectivo instala-se.
Se o ano civil só termina depois de mais seis meses, o ano de trabalho acaba antes das férias, com a agravante de se saber que ainda se têm seis meses pela frente até ao fim do ano, o que desanima qualquer pessoa.
As pessoas ficam impacientes porque querem acabar um ano que ainda vai a meio e então ficam embirrantes e cansam as pessoas que já estavam cansadas ainda antes de ficarem impacientes e embirrantes e, todas, perdem a paciência.

Com a chegada de Julho é precisa muita paciência para aturar as pessoas, incluindo nós próprios.
Com a chegada de Julho é preciso descobrir os últimos vestígios de paciência armazenados há uma ano.
Até para descobrir a cenoura que nos leve até Agosto.