quarta-feira, abril 30, 2008

outro PREC

Quando escrevi sobre as comemorações do 25 de Abril já as festividades tinham começado...mas não para esta "filha da madrugada".

Nunca imaginei que uma máquina de lavar roupa se sobrepusesse ao relembrar da importância da liberdade; mas a necessidade de ter liberdade de abrir a água em casa sem riscos de inundação fez-me rever os meus valores.

Consegui, ainda assim chegar ao Largo do Carmo a tempo de perder o juizo (e quase o maxilar, de tão perto que roçou o chão) para comprar 1 cravo por 1€ e cantar a Grândola.
Ou quase...

Depois de tanta correria para chegar a tempo de cumprir os mínimos da celebração, não pude deixar de sentir uma imensa frustração quando percebi que já poucos sabem tal música de cor. Uma música que, para mim tem (no mínimo) o mesmo grau de importância que o hino, que apela a valores a meu ver mais interessantes e contemporâneos que marchar contra canhões e que é, para todos os que tenham ouvidos, indiscutivelmente, muito mais bonita; além de representar, talvez, um pouquinho mais do que qualquer vitória desportiva (até à data, o único motivo que leva os portugueses a cantar o hino com alguma convicção), mas enfim...

Às 0h00 do dia 25 de Abril, no Largo do Carmo trocava-se o amigo pela azinheira e já nem se percebia bem que mais ordenava!
Mas valeu a fraternidade...

[Bem diz Almada que está do lado certo. Na margem esquerda isto nunca acontec(er)ia!!]

No 25 lá conseguimos chegar ao Rossio antes da ultima pessoa que desceu a Avenida para ouvir os discursos e perder a hipótese de cantar a Grândola com alguém que a tenha aprendido e ainda não a tenha esquecido.

Sem querer, dei por mim nos caracóis mais comunistas que alguma vez comi.
15 anos passados, apercebo-me que a infertilidade não é problema que atinja os antigos militantes da JCP. Pois se outra forma não houver para aumentar a esquerda neste país, que se vá pela hereditariedade...até tem dado frutos e não custa continuar a tentar!

Outra forma, mais construtiva, educativa e generalista, de ensinar alguma coisa a este povo de fraca memória foi o concerto transmitido na RTP: Vozes de Abril.
Apesar de dar que pensar ver quantas belíssimas vozes têm sido injustamente esquecidas principalmente quando dão lugar a outras - em grande parte - muito menos "belíssimas"; sabe bem ouvir na televisão as músicas que às vezes parecem tem voltado à clandestinidade.


Pelo sim, pelo não - ainda que esteja facilmente acessível na internet - não custa deixar aqui também o singelo poema que nos veio a permitir dizer e escrever o que nos passa pela cabeça, como fazemos todos os dias (felizmente) já sem pensar no valor que tem.


Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

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