segunda-feira, dezembro 10, 2007

Foi Sábado



Era Sábado, era Inverno e estava sol.
A manhã desse dia seria perdida a dormir, a tarde desperdiçada a trabalhar.
Entre a manhã e a tarde era Sábado.
Apanharia o eléctrico para que me levasse da manhã à tarde.
Apanharia o eléctrico para ser Sábado.

Junto à paragem, a loja onde deveria fazer alguma coisa nesse Sábado estava fechada. "Aberto aos Sábados das 8h00 às 20h00" lia-se no vidro atrás das grades às 15h30.
O tempo que estaria à espera do eléctrico fora o tempo de andar sob o sol desse Sábado.
Dois eléctricos chegavam à graça prometendo levar-nos à estrela ou aos prazeres.
Escolheria a estrela por saber de antemão que a tarde desse Sábado não seria prazenteira.
O prazer desse Sábado seria o caminho entre a manhã e a tarde.

O prazer desse Sábado seria fingir ser turista ao longo dos carris, olhando o sol a iluminar o lioz em cor de paz.
Os turistas espanhóis impediriam no entanto essa paz, até ser conseguida a independência com a ajuda de S. Jorge.
No paralelipidedo seguinte quase cairia segurando a mala com a mão que me segurava, sobressaltando o rapaz ao meu lado a quem agradeci o gesto de me segurar com um sorriso.
O rapaz também sorriu.
Mas não sorriu tanto como o outro com a grande mala que acreditei estar apaixonado pela rapariga de calças cor-de-laranja indiferente a tal paixão.
Foi um sorriso estranho, o do rapaz que se aproximava apesar de já quase não haver turistas no eléctrico.
Havia a rapariga ruiva de cazaco azul, mas estava sentada.
Quase todos estava sentados olhando o sol que iluminava o Sábado.
Em pé: eu e o rapaz que se aproximava.
Não querendo que tivesse de me segurar outra vez, segurei a mala com a mão que me segurava e segurei-me com a outra mão.
Foi então que vi a sua mão a aproximar-se da minha mala.
Foi então que me pude sentar e que ele saiu.
Foi então que foi Sábado, até descer a esse poço onde o sol desaparece e tantos Sábados terminam.

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