Acabava de conhecer uma vizinha no café do bairro; senhora professora de idade avançada, com quem ia falando para encher o tempo, meu e dela. Em final de conversa, já a senhora tinha pegado nos sacos para sair e já eu tinha colado o meu sorriso nº3, que a paciência para esperar pela chave de casa se ia esgotando, dá-se o seguinte diálogo:
- Então, portanto, tem casa aqui? - tinha sido tema para todo o café em que casa moro bem como o historial dos inquilinos da mesma.
- Sim.
- E é casada?
- Sou.
- E tem filhos?
- Não.
- Mas está a pensar ter?
- Sim.
- E não os vai matar, pois não?
- Não!! - "que disparate de pergunta!", pensei
- Bem me parecia... - respondeu a senhora de sorriso nos lábios e expressão de congratulação pelos meus princípios.
Foi então que acordei para o teor da pergunta e consequente interpretação da minha resposta!
- Mas percebo quem o faça! - ...quem, em determinado momento, não "está a pensar ter filhos", só para dar um exemplo.
- ...mmm... Eu não critico quem faz; aquela rapariga com quem estive a falar há pouco já fez dois... Sabe, a culpa às vezes não é delas, são os homens...
- Sim, são os homens que levam a essas situações. O Homem, com H grande! - que não restassem dúvidas sobre os meus princípios.
E assim terminou a nossa conversa.
E assim me voltei a enervar com a incapacidade das pessoas de se porem na pele das outras ou, pelo menos, admitir que há peles nas quais não se imaginam.
-
Acredito que se todos tivéssemos a vida de sonho a questão do aborto não se colocaria. Se vivessemos no mundo ideal era muito bonito multiplicarmo-nos despreocupadamente e encher as ruas de crianças felizes.
Pena é que tão pouco conseguimos, nós todos, Homens com H grande, chegar a acordo sobre o que seria essa vida de sonho no mundo ideal, quanto mais atingi-los...
Pessoalmente, sempre pensei que teria filhos cedo e continuo a defender que uma menor diferença de idades entre as gerações tem imensas vantagens, nomedamente pela energia indipensável a um pai que procure acompanhar o seu filho e que diminui com o passar dos anos ou pelo facto de estar convencida que à medida que os anos passam nos tornamos mais complicadinhos. Mas, cá estou, com 29 anos, adiando sine die esse momento glorioso!
Isto só para dizer que nem sempre as coisas são como nós queremos. Parece-me simples de perceber.
E se o adiar do momento nunca implicou interrupção voluntária de nenhuma gravidez tenho plena consciência que não foi por nenhum outro motivo senão um tão previsível, controlável e científico como a sorte!
E, sei-o também, se esta sorte não tivesse estado do meu lado, outra sorte estaria: a de ter meios a nível familiar, de acesso a informação e financeiramente para não correr os riscos que tantas correm.
(continua, enquanto for preciso!)
terça-feira, janeiro 09, 2007
Pela Liberdade
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8 comentários:
Seria fabuloso se todas as familias pudessem ter as ditas vidas de sonho, as condições economicas para educar 3, 4, 5 ou mais filhos...
Mas o que revolta mesmo são as pessoas que dizem que "os filhos trazem prosperidade" e não tem a minima noção da realidade.
Isto é só mais um desabafo das barbaridades que tenho de aturar sempre que um referendo se aproxima.
Pelo direito à livre escolha, eu voto SIM!!!
Voto sim... hipocrisia não, obrigado...
;)
Já reactivamos o Mais Livre. Dá uma vista de olhos.
http://maislivre.blogspot.com/
Não podia estar mais de acordo contigo.
Sempre disse e já o escrevi na Marcha que sou contra o aborto, mas vou votar SIM no referendo.
O casal (porque está é uma questão do casal... quando, claro está, as circunstâncias não fazem dela uma questão da mulher), consciente (e eu acredito na inteligência humana) opta por determinada opção.
Ninguém, não me venham com balelas, faz um aborto sem que isso seja uma decisão devidamente ponderada.
Ninguém, deixem-se de falsos moralismos, faz um aborto como quem faz uma mija.
Nem mais.
Porque será tão difícil de entender?
Nenhuma mulher se levanta da cama e diz, enchendo o peito de ar, "hoje tenho o dia livre, vou fazer um aborto". Nenhuma mulher está no emprego e se vira para os colegas com um "eh pá, acho que amanhã não posso vir, apetece-me ir fazer um aborto". Nenhuma mulher, sem casa, comida, dinheiro, família, pega em si e vai tirar uma criança. NÃO!
Como escreve o Matvey, ninguém faz um aborto como quem vai dar uma mija. Que merda de hipocrisia! Haja paciência para conversas da tetra em que quem é a favor da despenalização é a favor da morte! Principalmente quem se diz contra, e já é experiente no assunto (ai como eu sei de tantas "santinhas"...)
É preciso votar sim. Pela VIDA de todos.
Apoiado!
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