Em contagem decrescente

Gosto de fazer anos.
Gosto mesmo.
Gosto de sentir que mais um ano passou e aí está outro, como um caderno em branco, absolutamente por estrear.


Não penso que envelheço, não me ocorre nesta altura. E mesmo que me lembre(m) não me aborrece envelhecer.
Aborrecem-me apenas as rugas, estas linhas que culpo os sorrisos amarelos de me cravarem na cara. Mas desde que continue a rir não se notam…

Em Setembro, na Festa do Avante, recordava, reflectia, entusiasmava-me com as noções de liberdade, cortava amarras e tomava as decisões para o novo ano (que era o lectivo). Por alguma razão nunca gostei desse mês, sabe-me a indecisão.
Em Outubro punha os planos em prática e esperava pelo que estava para vir.
Novembro é o mês de celebrar mais um ano de vida na companhia das folhas caídas dos plátanos e dos amigos.

Como quando era pequena raramente celebrava o meu aniversário no próprio dia, ou celebrava em festas de outros que faziam anos no mesmo dia; chegava a ter uma “semana de anos” entre o dia em que fazia anos e o fim-de-semana, quando chegava o meu pai e fazíamos a festa.
Como o Outono dá à minha terrinha as cores mais bonitas assumi todo o mês como celebração do meu aniversário e que o mundo celebrava comigo abrindo o sol na semana antes do dia.

Após um período de reflexão e de saturação, de limpeza e de expiação, de procurar respostas e de achar que não, chega o momento da entrega, da renovação.
Deixo as desilusões do ano que passou cairem com as folhas para o vento as levar para longe. Deixo que a chuva lave a alma.
Com o frio chega o aconchego do meu Verão.

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No fim de semana passado cortei e pintei o cabelo.
Cortei-o muito, como fiz há dez anos; cortei-o como o usava quando era pequena, como a minha mãe gosta.
Pintei-o da cor do meu pai.
Duas pessoas não me reconheceram hoje.
Estou quase pronta para recomeçar!