terça-feira, março 14, 2006

Cabelo comprido


"Pareces a Suzanne Vega" disse-me Árias.



Adoro cortar o cabelo. Adoro entrar com uma cara e sair com outra.
Adoro cortar o cabelo quando gosto da cara com que saio, caso contrário é (sou) um inferno.

Quando era pequena, para minha grande infelicidade, sempre tive o cabelo curtíssimo. Só quando comecei a ter voto na matéria é que pude começar a deixá-lo crescer, mas era demasiado tarde para me enfeitar com laçarotes e já tinha ganho o gosto a sentir o cabelo fazer cócegas no pescoço.
Com os tais 14 anos enchi-me de coragem para deixar crescer o cabelo, tive mesmo de dar ordens expressas à cabeleireira de não me deixar entusiamar com cortes curtos. Ía à cabeleireira mais louca da "terrinha" e ora usava o cabelo mais curto atrás e mais comprido à frente, ora mais curto de um lado que do outro, com farripas, sem farripas... Entre os 14 e os 18 anos obriguei-me a entrar no cabeleireiro sem olhar para nenhuma revista e consegui chegar à faculdade com o cabelo quase pela cintura.
Aí não durou muito, segui o exemplo das minhas amigas já aliviadas do peso da adolescência e, de um momento para o outro, cortei com o grunge ou o frick ou lá o que era. (Ainda hoje penso se a rapariga do cabeleireiro se andará a passear com o postiço que me pediu para fazer com o meu cabelo...)

Longe da cabeleireira que me conhecia as manias a coisa complicou-se. Saía consecutivamente dos cabeleireiros furiosa, quando não ía directamente para a casa de banho mais próxima molhar o cabelo lavada em lágrimas. Fui experimentando e resmungando e voltei a ir cortar o cabelo à província até há três anos quando, morta de calor, resolvi cortar o cabelo tão ou mais curto do que quando era pequena e conheci a Sílvia.
"Muito curto?!" perguntou espantada.
"Curtíssimo!" implorei esbaforida, ainda com o sol a bater-me na cara alinhado com os carris da Bica.
"Mas feminino." decidiu. E ficou lindo.

De experiência em experiência o cabelo foi crescendo e há algum tempo que me voltei a controlar porque não me consigo imaginar noiva com o cabelo curto. Não ía deseperdiçar mais uma hipótese de enfeitar o cabelo, fazer penteados... Desde o casamento da Jo que não o cortava.
Estou com o cabelo como quando tinha 16 anos e o mais curioso é que não estou sózinha. O saudosismo é colectivo, minhas lindas? O que se passa?

Certo é que ontem disse à Silvia que queria o cabelo comprido. Ao som de Smiths e Clash deu as voltas à tesoura que só ela vejo dar, esteve horas com cara de criança concentrada a tirar milímetros ao cabelo e fez jus ao espírito revivalista.



1 comentário:

Ladybug disse...

Cortares o cabelo curto quando o tinhas quase pela cintura foi dos maiores desgostos que me déste!!