sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Café(s)


ou "Bons Hábitos"

Adaptando velhos hábitos às contingências que a vida me foi impondo consegui, finalmete, criar uma nova rotina.
No primeiro ano em que vivi em Lisboa ainda consegui manter alguma vida de café. Claro que não era o saudoso Alentejano, mais que Café, essa instituição onde lia, escrevia ou desenhava enquanto esperava alguém que certamente aparecia, às vezes para desenhar com café. Não tive a sorte da Si que trocou o Alentejano pelo Café Paraíso como se não tivesse mudado de cidade.
No primeiro ano em que vivi em Lisboa ía à Brasileira de madrugada ou ao fim do dia e lia, escrevia ou desenhava.
Com o tempo deixei de conseguir fazer madrugadas, deixei de ter os meus bucólicos fins de tarde. Mas no Sábado ainda ía à Brasileira com a Sushi,com quem partilhava a casa, que partilhava os mesmos hábitos como partilhara o mesmo Café. Se as finanças estavam mais apertadas, íamos até à Camponesa beber café e ler o jornal. Às vezes, em desespero, lá me arracava à cama mais cedo e ía tomar o pequeno almoço aos Pastéis de Belém, antes de subir para a faculdade. O meu doce luxo.
Árias não partilha na mesma medida esta necessidade de ir ao Café. Não deve beber café desde o Tarro, onde abusava. Sorrateiramente, fujo de casa no Sábado de manhã e deixo-o a dormir. Despeço-me com um "vou beber café" sussurrado para não o acordar e volto três horas mais tarde para o encontrar esfomeado a resmungar que não percebe como se domora tanto tempo a beber café. E esse tempo não me chega...
O Café é o meu local de meditação, o café elixir da clarividência. Bebo café quando preciso de acordar e quando preciso de me acalmar. No Café leio, escrevo, desenho...
Agora venho ao Café almoçar e escrevo.
Aqui fujo do mundo sem o perder de vista como o gato que se esconde para não ser visto num sítio de onda possar ver.
Assim, ao fim de dez anos a viver em Lisboa, arranjei o espaço para poder, quase diariamente, escrever, ou ler, ou desenhar.
Encontrei, na cidade e no tempo, o espaço onde saborear a vida.

Sem comentários: